Olá, plantinha. Percebo
agora que são raros os momentos que entendo que você está aí. Eu olho lá fora, amoreirinha,
e vejo o sol batendo na calçada, batendo nos muros, batendo nos passarinhos ao
vento e até na vizinha encurvada. E você aqui dentro, no centrinho da sala. E
sabe o que acontece, mudinha? Eu creio que entendo a língua das plantas. O que
bate na gente não é sol, é sempre outra coisa. Nem mesmo vento, só um ar
estagnado que faz a gente sentir saudade do que não tem. Você não morre, tem o
suficiente pra ficar viva, mas somente porque você é forte, plantinha. Talvez
não o suficiente pra ver florescerem amoras pretas suculentas, nem pra ver o
sabor das raízes andando na terra. Mas eu sei, amoreirinha, como quem tem olhos
verdes. Dentro desse vasinho da gente cabe mais que esta mesma porção de terra
- cabe o futuro guardado, entranhado em toda a esperança do mundo, que ainda é
fértil.