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12 janeiro, 2014

Olá, plantinha. Percebo agora que são raros os momentos que entendo que você está aí. Eu olho lá fora, amoreirinha, e vejo o sol batendo na calçada, batendo nos muros, batendo nos passarinhos ao vento e até na vizinha encurvada. E você aqui dentro, no centrinho da sala. E sabe o que acontece, mudinha? Eu creio que entendo a língua das plantas. O que bate na gente não é sol, é sempre outra coisa. Nem mesmo vento, só um ar estagnado que faz a gente sentir saudade do que não tem. Você não morre, tem o suficiente pra ficar viva, mas somente porque você é forte, plantinha. Talvez não o suficiente pra ver florescerem amoras pretas suculentas, nem pra ver o sabor das raízes andando na terra. Mas eu sei, amoreirinha, como quem tem olhos verdes. Dentro desse vasinho da gente cabe mais que esta mesma porção de terra - cabe o futuro guardado, entranhado em toda a esperança do mundo, que ainda é fértil.