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17 julho, 2015

Sobre o começo de Festival, 2015.

Fotografia tirada no FIG, 2014.


Feche o buraco ou deixe o recinto.



Todos (todas) falaram, espalharam, tagarelaram sobre a atração famosa da primeira noite, mesmo antes de ser lançada a programação. A última atração, dona Ana xará.

O que me levou (sozinha, na chuva) à praça lotada, no entanto, foi uma senhorita bonita chamada Renata. Sou fã de carteirinha, apesar de não ter acompanhado os trabalhos mais recentes. Sou fã pela música, pelo ideal e pela atitude dessa criatura que sabe que é gente como toda gente.

O que me leva ao ponto principal desta crônica: atitude.

Apesar do meu atraso habitual, cheguei bem antes do show que me interessava (afinal, o atraso é habitual no Brasil inteiro). Afim de ver a senhorita de perto, fui avançando na multidão, cabeça baixa e passo rápido - já estava começando. Ao chegar mais perto da frente, perdi logo as esperanças de ficar na grade, e depois, até mesmo perto dela. Muitas pessoas, muitas pessoas imprensadas. Normal. 

Senti logo uma estranheza ao meu redor. Tentei ignorar, afinal podia ser o fato de não ter pessoas conhecidas por perto. Mas as músicas foram se seguindo e a massa de pessoas na grade (até onde minha vista submersa alcançava) falava da vida, se pegava (se pegava bastante), virados, de costas e, finalmente, com sua muralha impenetrável de guarda-chuvas erguida.

Eu, numa dança trôpega de ponta de pés, só queria mesmo ver a senhorita Renata, ouvir a música, e se possível, dançar um pouco nos meus centímetros quadrados.

Só pude mesmo encarar quando, ao ser iniciada a apresentação dos integrantes que a acompanham "há 12, 13, 14 anos", indivíduos da massa da grade, por todos os lados, resolveram levantar as mãos em sinal de não. Gritos de "não" enquanto ela agradecia a oportunidade de voltar à cidade, a presença de tantas pessoas e expressava seu desejo de que aquela energia durasse a noite inteira.

O mesmo se deu em todas as pausas seguintes, culminando na enxurrada de aplausos e assovios quando foi anunciada que a próxima música seria a última do repertório.

Não é necessário dizer que não houve chamada de "mais um".

Não tenho uma conclusão boa a fazer, neste fim de relato, sobre a atitude deste público para com os artistas. Creio que é um direito pessoal gostar ou não de algo, seja lá o que for. Mas há um limite (feito de neón, gliter e luz led) entre ter opinião própria e desrespeitar outra pessoa.

E a mim, sinceramente, não interessa se essas pessoas foram apenas para a festa ou ver dona Ana xará, se não quiseram sair da beira do palco para não ceder o lugar que levaria mais de três horas para "valer à pena", ou se estavam muito bêbadas para lembrarem o que é respeito. Se você escolheu estar na presença de um artista, que está trabalhando e dando tudo de si, você só abre a boca se for para aclamar. Caso contrário, feche o buraco ou deixe o recinto.

Agora só me resta dizer que a senhorita bonita Renata Rosa estava maravilhosa, linda, dançando e trajando seu sorriso satisfeito o tempo inteiro. E agradeço infinitamente que, do alto do palco luminoso, havia uma praça lotada, mesmo na chuva, gritando e aplaudindo.


Relógio de pulso

Enquanto eu estava sonhando, minha avó trazia à tona um certo relógio de pulso, relógio esse que, de fato, tive na infância, me foi muito querido e perdeu-se no tempo.
    
Mas eu o tinha, em algum lugar, esquecido, e ela o estava precisando.
    
Nos pusemos, eu e minha mãe, a procurar. Foram vários cantos e lugares na casa que eu conhecia, sem nunca ter visto.
    
Nada.
   
Olhei novamente numa prateleira alta e levemente empoeirada – pois sou de passar coisas despercebidas quando as busco – e vislumbrei o que parecia ser uma correia branca. Ao abraçar com a mão o que não via completamente, senti o alívio.
   
“Achei.” disse, sorrindo.
   
Ao abrir a mão, no entanto, se deu uma confusão. Tratava-se, sim, de uma correia branca, porém inteiriça, com um pequeno buraco redondo no centro, como uma capa, vazia. Imaginei rapidamente um certo reloginho dourado e redondo sem correia a ser colocado ali.
  
Não exitei: “Esse aqui é para a senhora.”, disse, repassando a pulseira branca para minha mãe.

***

Não sei se achamos o tal relógio de pulso, no fim das contas. Na verdade não importa.
   
O fato é que sonhos possuem o poder mais intangível de metáfora.

14 julho, 2015



Vejamos...
Janelas (para entrar bastante luz da tarde), tantas quanto possível. Balcão (ou mesa pequena, redonda) debaixo da melhor janela (sempre com uma xícara de café quente e um cinzeiro). Um gato chamado Turin. Cama de casal, banheira (se couber). Piscas coloridos e um abajur clássico (possivelmente de antiquário). Uma estante pequena para os livros e tranqueiras esquisitas. Mini horta (caso haja mais alguém para cuidar). Silêncio no papel de parede.
Praia (para aprender a surfar), nas redondezas (se possível a apenas algumas ruas de distância). Ruazinhas de calçamento de pedra. Pubs (ou bares frequentáveis) em algumas dessas ruazinhas. Um trabalho suave (como uma xícara de café e um cigarro), com fotografia, música, comida, algo mais banal, ou tudo isso (mas que me permitisse ver o sol se pôr).
Um ou outro aniversário (ou desaniversário).
Uma viagem de vez em quando, talvez.
Talvez um par de olhos pra espelhar o pôr do sol.
Só me resta chegar lá.


02 julho, 2015




I'll probably be on my own until my dying day
Just lying undiscovered on the floor left to decay
I won't have seen those place I wanted to have seen
I'll probably be living in some flat in Milton Keynes
I'll probably buy groceries with coupons I collect
I'll have to cash them in in supermarkets I detest
If I have to go to Iceland, I think I might be sick
I'll only go to Iceland if it's got a Reykjavik
I'm a going nowhere, sad case, loser
I only ever wanted to be happy, happy, happy
That's all I want to be