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07 dezembro, 2014

Cartas para Nicolau

    Lá por onde trabalho, estão expostas cartas, como uma festa mexicana, cartas abertas, papéis e mais papéis pautados com corações, desenhos e letras redondas e nervosas. São cartas de crianças. Sem vergonhas e com muito desejo, fazem as mais diferentes solicitações, de "celulares digitais" e Xbox à material escolar e roupinha de natal. Tratam-se de cartas para o senhor Claus. Estão lá, de ano em ano, balançando ao vento, para serem adotadas, enchendo de lágrimas os olhos de alguns, ou de descaso, no caso de outros. E, entre todos os questionamentos que me poderiam ter trazido aqui para falar sobre isto - como o fato de a maioria ainda estar lá, intocada, e o que isso poderia dizer das pessoas; ou o de algumas vezes certos presentes só chegarem bem depois do natal, e o que isso poderia dizer sobre o serviço de entregas - o que tem me martelado a cabeça é sobre a real crença das crianças deste tempo.

     Digo, as crianças realmente ainda acreditam em Papai Noel?
Então, você pode me dizer: "Mas, ora, elas sabem que não é o Papai Noel, e sim os pais, ou estranhos caridosos com mais dinheiro, que podem lhes dar os desejos de natal, é óbvio.", e fazer uma cara muito convincente de quem sabe do que está falando. E eu te digo, penso nisso. E estaria quase completamente convencida do mesmo (não se deve ser completamente convencido de coisa alguma), não fossem dois casos que presenciei.

    Conto: chegaram dois menininhos, mal eram vistos por trás do balcão, irmãos, supus, e ficaram perambulando na saleta por um tempo, até o mais velho se aproximar do balcão e dizer "É aqui que a gente coloca carta pro Papai Noel?" e estender, na ponta dos pés, duas cartinhas comuns. O que isso prova? Absolutamente nada, tecnicamente. Mas não consegui acreditar que aqueles dois menininhos pudessem achar outra coisa senão que os correios realmente encaminhariam a carta ao Pólo mágico até o senhor barbudo que realiza desejos de Natal se você tiver muita fé.

    O segundo caso é mais curto: acontece que, no meio de todas as outras cartinhas, uma delas - rosa e com muitos adesivos, letra destreinada, endereçada ao Papai Noel - não teria nada de diferente, exceto pelo fato de que está sem endereço de remetente. Bom, para que o bom velhinho precisaria que você dissesse seu endereço, ele sabe até se você foi bom ou mal durante o ano, certo? Quais as chances dessa criança achar que sua cartinha acabaria aberta ao vento para adultos estranhos verem e se compadecerem e quais as chances dela achar que realmente acabaria na terra distante onde neva, como nos filmes que vemos desde essa idade, onde seria encaminhada pelos duendes ajudantes até o conhecimento do velhinho de cara rosada, para, pelo menos dessa vez ter seu pedido natalino atendido, já que foi "boazinha e respeitou pai e mãe", como ela diz. Bom, vai ver é só uma criança muito esquecida mesmo.

    Vai ver é só questão de escolher no que acreditar...

    Mas, por via das dúvidas, aí vai o endereço oficial do Papai Noel:

Santa Claus, 96930, Círculo Polar, Finlândia