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22 março, 2014

Pelo poder dos ícones

Pelo poder que têm os ícones, me sinto obrigado a dizer, jamais as coisas serão só coisas, não enquanto o ser humano sentir dor. A marquinha da indispensável vacinação no braço é a perpetuação do medo frágil de agulhadas. Que você sempre toma porque, sobre todos os efeitos, "é para seu bem". A dubiedade dos quereres é comum.
Por isso, minha cara, aquela minha dor não passa. A casa, a famigerada casa, vai estar sempre exalando meus expurgos da vida que não é, mesmo que não mais esteja de pé, mesmo que não mais esteja habitada.
Já me deitei em seu chão, lembras, e fui feliz. Me admirei com a oficina escondida e todos os seus níveis de poeira mágica, entre outras coisas admiráveis. Já olhei da sua janela e te vi naquele céu, e desde então você está nele. Já te amei em sua cama, no tempo que não nos encostávamos.
Lá fui traído. E tudo isso nos foi tirado para sempre. Não negue.
E em cada pedaço de cerâmica, fio de cabelo loiro e copo de vidro inquebrado, cada pedaço dessa memória em forma de casa, reside infiltrada, impregnada, essa dor, e todas as que vieram depois.
Sempre vou te querer feliz.
E cada lágrima que meus cílios parcos dispensam em minhas olheiras, às vezes apenas pelo vislumbre de um forro florido, diz, tão somente, que isso não vai passar enquanto eu existir com minha memória, e enquanto você pertencer intrinsecamente à cada molécula desses mesmos itens, desta mesma casa.
Enquanto aquela chave estiver em teu bolso.