25 dezembro, 2014
07 dezembro, 2014
Cartas para Nicolau
Lá por onde trabalho, estão expostas cartas, como uma festa mexicana, cartas abertas, papéis e mais papéis pautados com corações, desenhos e letras redondas e nervosas. São cartas de crianças. Sem vergonhas e com muito desejo, fazem as mais diferentes solicitações, de "celulares digitais" e Xbox à material escolar e roupinha de natal. Tratam-se de cartas para o senhor Claus. Estão lá, de ano em ano, balançando ao vento, para serem adotadas, enchendo de lágrimas os olhos de alguns, ou de descaso, no caso de outros. E, entre todos os questionamentos que me poderiam ter trazido aqui para falar sobre isto - como o fato de a maioria ainda estar lá, intocada, e o que isso poderia dizer das pessoas; ou o de algumas vezes certos presentes só chegarem bem depois do natal, e o que isso poderia dizer sobre o serviço de entregas - o que tem me martelado a cabeça é sobre a real crença das crianças deste tempo.
Digo, as crianças realmente ainda acreditam em Papai Noel?
Então, você pode me dizer: "Mas, ora, elas sabem que não é o Papai Noel, e sim os pais, ou estranhos caridosos com mais dinheiro, que podem lhes dar os desejos de natal, é óbvio.", e fazer uma cara muito convincente de quem sabe do que está falando. E eu te digo, penso nisso. E estaria quase completamente convencida do mesmo (não se deve ser completamente convencido de coisa alguma), não fossem dois casos que presenciei.
Conto: chegaram dois menininhos, mal eram vistos por trás do balcão, irmãos, supus, e ficaram perambulando na saleta por um tempo, até o mais velho se aproximar do balcão e dizer "É aqui que a gente coloca carta pro Papai Noel?" e estender, na ponta dos pés, duas cartinhas comuns. O que isso prova? Absolutamente nada, tecnicamente. Mas não consegui acreditar que aqueles dois menininhos pudessem achar outra coisa senão que os correios realmente encaminhariam a carta ao Pólo mágico até o senhor barbudo que realiza desejos de Natal se você tiver muita fé.
O segundo caso é mais curto: acontece que, no meio de todas as outras cartinhas, uma delas - rosa e com muitos adesivos, letra destreinada, endereçada ao Papai Noel - não teria nada de diferente, exceto pelo fato de que está sem endereço de remetente. Bom, para que o bom velhinho precisaria que você dissesse seu endereço, ele sabe até se você foi bom ou mal durante o ano, certo? Quais as chances dessa criança achar que sua cartinha acabaria aberta ao vento para adultos estranhos verem e se compadecerem e quais as chances dela achar que realmente acabaria na terra distante onde neva, como nos filmes que vemos desde essa idade, onde seria encaminhada pelos duendes ajudantes até o conhecimento do velhinho de cara rosada, para, pelo menos dessa vez ter seu pedido natalino atendido, já que foi "boazinha e respeitou pai e mãe", como ela diz. Bom, vai ver é só uma criança muito esquecida mesmo.
Vai ver é só questão de escolher no que acreditar...
Mas, por via das dúvidas, aí vai o endereço oficial do Papai Noel:
Santa Claus, 96930, Círculo Polar, Finlândia
21 outubro, 2014
Quero ser a próxima respiração. (Ou carta aos que ficarem)
Quando os ventos brandos não mais fustigarem meus pulmões e nenhuma partícula de luz puder iluminar minhas memórias, não quero permanecer inteira.
Quero, nesta hora, que cada peça de mim seja acolhida na beira de um olhar vívido que duvidar do próximo raiar do sol. Quero, sim, propagar tudo que ainda houver de vida em mim, onde ela precisar continuar, onde eu não mais puder sustentá-la.
E depois, assim mais leve, quando tudo o que sobrar for cascalho e silêncio, quero que o fogo leve embora o insustentável peso de ser, e o que mais sobrar, com seu egoísmo, vaidade e preocupações vãs.
Assim descarregada, quero, por fim, que me apresentem esta nova face aos cinco ventos do mundo, e deixem esta vista, agora clara, não ser mais minha. Deixem-me ver tudo.
Ao fim, antes e depois, serei a próxima respiração.
16 outubro, 2014
13 outubro, 2014
Sobre o oiseau.
Cabe ao pássaro falar sobre o que pensa. Sobre o que não pensa também, sobre o vento, sobre as árvores e as pequenas criaturas. Jamais, porém, ele falará do fogo, inclementemente capturado em sua matéria volátil, pois a fênix de seu antepassado ainda repousa sobre domínios, recônditos, desconhecidos. E a piromancia sã e ensandecida de sua raiz desabita hoje suas plumagens suaves e lisas, tornando seu voo livre, porém, apenas. O pássaro ainda reza para seu antepassado.
07 junho, 2014
Entre saudade e alívio
O saber que o outro tem
Sem que seja dito o ser
Entre o olhar e o ver
Entre bênção e maldição
É para quem tem a visão
Sobre si atendada
Confidencia revelada
E dolorido alento
Os dois ao mesmo tempo
Sem que diga ninguém
Sem que seja dito o ser
Entre o olhar e o ver
Entre bênção e maldição
É para quem tem a visão
Sobre si atendada
Confidencia revelada
E dolorido alento
Os dois ao mesmo tempo
Sem que diga ninguém
10 maio, 2014
One...
Two...
Three cups of... What am I drinkin'?
Anyways...
I was askin', ARE YOU FREE FOR FREEDOM?
'Cause you see, my ghosts, we are anythin' but a dream within a dream...
Someone did say that before...
Well, again, I was telling, life is a problem that solves itself at the end, don't you know?
Wait...
Is that what I was saying?
Don't matter, that's true too.
Who put this music on?
Liked.
So, as I was speaking, if you get too tired for fightin', you die. Then, it's very simple, none should worry. Is that right?
What I am tellin' ya does even make sense?
It must, 'cause it's true, again.
I gotta go home now.
See? I got the wisdom.
See ya in graves.
A lonely man walks through a closed bar and vanishes into street darkness.
Two...
Three cups of... What am I drinkin'?
Anyways...
I was askin', ARE YOU FREE FOR FREEDOM?
'Cause you see, my ghosts, we are anythin' but a dream within a dream...
Someone did say that before...
Well, again, I was telling, life is a problem that solves itself at the end, don't you know?
Wait...
Is that what I was saying?
Don't matter, that's true too.
Who put this music on?
Liked.
So, as I was speaking, if you get too tired for fightin', you die. Then, it's very simple, none should worry. Is that right?
What I am tellin' ya does even make sense?
It must, 'cause it's true, again.
I gotta go home now.
See? I got the wisdom.
See ya in graves.
A lonely man walks through a closed bar and vanishes into street darkness.
22 março, 2014
Pelo poder dos ícones
Pelo poder que têm os ícones, me sinto
obrigado a dizer, jamais as coisas serão só coisas, não enquanto o ser humano
sentir dor. A marquinha da indispensável vacinação no braço é a perpetuação do
medo frágil de agulhadas. Que você sempre toma porque, sobre todos os efeitos,
"é para seu bem". A dubiedade dos quereres é comum.
Por isso, minha cara, aquela minha dor não
passa. A casa, a famigerada casa, vai estar sempre exalando meus expurgos da
vida que não é, mesmo que não mais esteja de pé, mesmo que não mais esteja
habitada.
Já me deitei em seu chão, lembras, e fui
feliz. Me admirei com a oficina escondida e todos os seus níveis de poeira
mágica, entre outras coisas admiráveis. Já olhei da sua janela e te vi naquele
céu, e desde então você está nele. Já te amei em sua cama, no tempo que não nos
encostávamos.
Lá fui traído. E tudo isso nos foi tirado
para sempre. Não negue.
E em cada pedaço de cerâmica, fio de
cabelo loiro e copo de vidro inquebrado, cada pedaço dessa memória em forma de
casa, reside infiltrada, impregnada, essa dor, e todas as que vieram depois.
Sempre vou te querer feliz.
E cada lágrima que meus
cílios parcos dispensam em minhas olheiras, às vezes apenas pelo
vislumbre de um forro florido, diz, tão somente, que isso não vai passar
enquanto eu existir com minha memória, e enquanto você pertencer
intrinsecamente à cada molécula desses mesmos itens, desta mesma casa.
Enquanto aquela chave estiver em teu
bolso.
27 fevereiro, 2014
Olhei para os dois lados antes de me atravessar.
Abri aquela caixinha meio Carmen que tem por aqui. Fazia tempo. Revi coisas lá dentro.
Tinha subido no parque, no brinquedo mais perigoso pra mim. Lá de cima vi o mundo de fora, perigoso, de fato. Não consegui parar de olhar.
Fiz de conta. Muitas contas. Fiz esse tempo todo passado uma desregra de esquecimento. Estou pronta pra viver agora, estou esperando você.
Você que me vê do outro lado do espelho.
12 janeiro, 2014
Olá, plantinha. Percebo
agora que são raros os momentos que entendo que você está aí. Eu olho lá fora, amoreirinha,
e vejo o sol batendo na calçada, batendo nos muros, batendo nos passarinhos ao
vento e até na vizinha encurvada. E você aqui dentro, no centrinho da sala. E
sabe o que acontece, mudinha? Eu creio que entendo a língua das plantas. O que
bate na gente não é sol, é sempre outra coisa. Nem mesmo vento, só um ar
estagnado que faz a gente sentir saudade do que não tem. Você não morre, tem o
suficiente pra ficar viva, mas somente porque você é forte, plantinha. Talvez
não o suficiente pra ver florescerem amoras pretas suculentas, nem pra ver o
sabor das raízes andando na terra. Mas eu sei, amoreirinha, como quem tem olhos
verdes. Dentro desse vasinho da gente cabe mais que esta mesma porção de terra
- cabe o futuro guardado, entranhado em toda a esperança do mundo, que ainda é
fértil.
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